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Impaciência Crónica

Crónicas quinzenais sobre temas diversos e profundos, mas mais pró leve.

Impaciência Crónica

Crónicas quinzenais sobre temas diversos e profundos, mas mais pró leve.

O grito do empirismo

Tms, 01.10.24

No outro dia,  estava eu a fazer conversa de circunstância com um individuo cujo nome não me recordo (chamemos-lhe Guilherme Duarte, mas que fique claro que não era o humorista, que nem o conheço... mas sou fã), aquando decidi relatar-lhe uma situação banal mas ligeiramente engraçada que me havia acontecido.  Contei a breve (e irrelevante) história, inocentemente, com o intuito de preencher o silêncio e,  talvez, arrancar-lhe uma gargalhada ou duas... mas não estava preparado para o que se seguiu. 

Então não é que Guilherme Duarte (mais uma vez, outro, não o humorista... mas sou fã) solta uma pequena gargalhada de aprovação mas, de seguida, profere a seguinte frase: "Isso é verdade, porque também já me aconteceu."

Eu fiquei lívido, meus amigos! "Isso é verdade, PORQUE também já me aconteceu"?? Não! A verdade não está dependente das tuas experiências pessoais! Há toda uma panóplia de coisas que aconteceram e acontecem no mundo, mas que nunca te acontecerão, como: a elaboração da teoria da relatividade, a descoberta da cura do HIV ou sexo consensual. 

Eu quis explicar-lhe isto tudo, calmamente, enquanto lhe batia com um jornal enrolado no nariz, mas não consegui reunir forças para tal. Estava demasiado abalado. Na cara de Guilherme Duarte (peço desculpa se chegaram aqui por pesquisarem "Guilherme Duarte humorista" no Google, não é o mesmo desta história e não sei em que estava a pensar mas, definitivamente, não era conseguir clicks com esta pequena confusão... mas sou fã) via todos os que acreditavam que a terra é plana porque clamam nunca terem visto a curvatura da terra, todos os que diziam que a covid não existe porque nunca apanharam, e todos os que se recusam a acreditar na inocência de José Figueiras no que toca aos atentados de 11 de Setembro de 2001!  

Engoli todos os meus argumentos, pois percebi que não haviam palavras suficientes para convencer aquela pessoa do que quer que fosse. Derrotado, retirei-me de cena, e sofro ainda hoje.

Vemo-nos por aqui. 

Auxiliares de matéria

Tms, 15.09.24

Estamos, finalmente, na altura em que os pequenos diabretes que amamos e chamamos de filhos regressam para a escola!

O regresso às aulas pode ser, simultaneamente, um alivio e uma fonte de dores de cabeça. Um alivio porque os pais podem finalmente descansar da correria e agitação drenante que é ter crianças com demasiado tempo livre (nem que seja na meia hora a caminho do trabalho); uma fonte de dores de cabeça porque chegam a casa com os temíveis "trabalhos para casa".

Os trabalhos para casa não são só chatos para as crianças, que querem sair da escola e brincar, mas também para os pais, que querem sair do trabalho e brincar! Em vez de brincar têm uma(s) hora(s) de "Como é que isto se fazia?..." e "Não me lembro de nada disto...", enquanto tentam passar uma imagem de sabedoria para as pequenas criaturas que vos idolatram e vos têm como referência para tudo. Giro não é?

As boas notícias é que, se o vosso pequeno anjo endiabrado estiver no primeiro ciclo, há uma maneira simples e divertida de rever a matéria: A Sala do Girassol. É só visitar o canal e pesquisar a matéria!

Se calhar até já conheciam, uma vez que não é incomum os professores aconselharem os alunos a visitar o canal mas, no caso de não conhecerem, fica a apresentação abaixo:

Há videos novos regularmente, por isso não se esqueçam de subscrever, para não perderem nenhum! Espero sinceramente que transformem momentos de confusão em aprendizagem e diversão!

Vemo-nos por aqui.

O dilema dos dejectos

Tms, 01.09.24

Depois de muita ponderação, cheguei a conclusão de que não haveria melhor tema para abordar, aquando o meu regresso, do que o chamado "cocó"! 

Não se trata de um cocó metafórico, nem de uma tentativa de fazer humor escatológico (que, pessoalmente, nem acho grande piada) para atrair um público mais infantil mas, sim, de um dilema que pode DIVIDIR A SOCIEDADE! (TAM TAM TAAAAAAAAM)

Antes de o apresentar, permitam-me que confesse: eu tenho um cão, mas nem sempre apanhei o cocó do meu cão. Eis como o justificava, para mim e para os outros:

  1. 99% das vezes as necessidades são feitas na relva, longe do caminho dos transeuntes.
  2. Então, mas o cocó não é biodegradável? É uns dias e desaparece...
  3. Para onde vai o cocó que as pessoas apanham? É melhor haver montanhas de cocó num aterro qualquer??

Mas, depois de vários anos, fui convencido a realizar a apanha do cocó com os seguintes argumentos:

  1. Ah e tal, é uma questão de higiene pública e responsabilidade social.
  2. Então e se uma criança estiver a brincar na relva e mexer no cocó? Pode apanhar doenças!
  3. AS CRIANÇAS, MEUS DEUS, SALVEM AS CRIANÇAS!!

Com argumentos tão poderosos (especialmente o ultimo) não consegui, obviamente, ficar indiferente.

Procedi, então, à apanha do cocó diária até que, um dia, sucedeu algo que julgava pouco provável: o meu cão fez cocó em cima de outro cocó que jazia no jardim! Claro que não iria apanhar apenas o cocó do meu cão, deixando o outro cocó à mão de semear de crianças inocentes! Acho que ninguém faria uma monstruosidade dessas! Mas deixou-me a pensar...

Eis que surge o dilema: e se o cocó de outro cão estivesse imediatamente ao lado do cocó do meu cão? Não o deveria apanhar, PELO BEM DAS CRIANÇAS? E tivesse de me esticar um bocadinho, era um sacrifício assim tão grande, pelo bem comum? E se tivesse de dar um passo para apanhar outro cocó, custava assim tanto?

Se estamos a falar de responsabilidade social, de estarmos a fazer algo para uma sociedade melhor, um futuro melhor... qual é o limite? A partir de que momento deixamos de ser boas pessoas e passamos a ser palermas a apanhar cocós pela rua acima? Claro que, se todos fizessem a sua parte, cada um só se tinha de preocupar com os dejectos do seu próprio cão, mas é por outros serem irresponsáveis que nós temos de o ser?

Poderem sobre o assunto, partilhem com familiares e amigos, para que, juntos, consigamos chegar a uma resposta... PELAS CRIANÇAS!

Vemo-nos por aqui.

Uma escritora fortemente subvalorizada

Tms, 15.08.24

Já têm saudades dos meus textos tolos? Ainda vão ter de esperar mais um bocadinho... O texto desta semana é da autoria de Fábio Cardoso, um velho amigo e companheiro de escrita. Sempre que tenho uma ideia para um projecto louco, é com ele com quem vou falar para escrever e desenvolver a história! (como, por exemplo, o Projecto Zayin )

                                                                                         

Ora viva, leitores. Primeiro que nada quero agradecer ao dono deste estaminé pela oferta de escrever por aqui. Confesso que inicialmente não sabia sobre o que havia de escrever, mas, conhecendo-me bem, o mencionado dono sugeriu que eu falasse de livros, um tópico sobre o qual ele sabe que eu consigo falar incessantemente. Portanto cá estou eu pronto a falar provavelmente demasiado sobre uma escritora de que gosto muito: Jen Williams.

A primeira vez que contactei com a escritora em questão foi na rede anteriormente conhecida como Twitter no princípio de 2014. Sim, por vezes coisas boas vêm das redes sociais. Não me lembro qual de nós seguiu o outro primeiro, mas isso aconteceu e foi então que vi que ela estava a anunciar o lançamento do seu primeiro livro – The Copper Promise.

Tanto quanto percebo, a história tinha inicialmente sido autopublicada em 4 partes e, poucos meses depois de a conhecer, iria ser relançado por uma editora num volume só, com mais dois livros no futuro. Sinceramente, mesmo antes de saber sobre o que era a história, fiquei curioso. Tinha um dragão na capa, do que mais precisava eu de saber?

Como devem ter percebido pela última frase, sou fã de livros de fantasia, sempre fui e provavelmente sempre serei, e este livro saiu numa altura interessante. Lendo uma review que escrevi na altura (e é muito raro escrever reviews, por isso vejam o impacto que teve em mim), os livros de fantasia estariam a passar uma fase onde quase podiam ser confundidos com romance históricos, já que pareciam ter cada vez menos ter elementos fantásticos. Tirando a parte de se passarem noutros mundos e de, por vezes, terem referências a religiões que nunca existiram no mundo real, podíamos quase estar ler livros explorando a nossa própria história. Ou então, eu simplesmente andava a ler os livros errados.

A melhor descrição que posso arranjar para The Copper Promise, o primeiro livro da trilogia The Copper Cat, é que estamos perante um livro ao estilo da fantasia da velha guarda com um twist moderno. E por twist moderno, quero dizer que as pessoas falam como seres humanos e não actores numa feira medieval. 

Agora vamos à história em si!  Nesta aventura seguimos três personagens: Lord Frith, alguém que procura segredos proibidos para conseguir vingança, e os mercenários Wyrden e Sir Sebastian que irão tentar escoltar o nosso lord vingativo numa excursão à Cidadela, uma estrutura antiga que muitos dizem ser assombrada. O que é que pode correr mal? Muita coisa, na verdade! E é apenas o começo de uma aventura que poderá definir o futuro do mundo. Este livro tem tudo: acção, aventura, humor, um cheirinho de romance, magias proibidas, duelos de espadas, piratas e criaturas fantásticas. Ah, quase me esquecia de dizer que como uma boa aventura que é, este livro começa numa taberna. E como disse, é só o primeiro da trilogia! Dos outros dois, não vou falar de todo, por medo de acidentalmente largar spoilers. E, se o primeiro livro não parece interessante, provavelmente não estarão interessados nos seguintes.

Do que irei falar é do livro The Ninth Rain que saiu em 2017, o primeiro livro da segunda trilogia da autora., The Winnowing Flame. Esta história passa-se num mundo completamente diferente da primeira trilogia, onde há muitos anos a grande cidade de Ebora é uma joia resplandescente. Actualmente está completamente abandonada. O seu último sobrevivente, Tormalin, torna-se o guarda-costas de Vintage, uma exploradora/arqueóloga/aventureira., enquanto exploram um mundo cheio de criaturas grotescas saídas de pesadelos. Seguimos também Fell-Noon, uma feiticeira aprisionada numa ilha misteriosa rodeada de outras mulheres com poderes semelhantes. E morcegos gigantes! Não me podia esquecer de falar neles. Existem outras criaturas, mas vou deixar que o descubram por vocês próprios. Num à parte, esta é provavelmente a trilogia mais conhecida da autora, visto que o primeiro livro recebeu em 2018 o prémio de melhor fantasia nos British Fantasy Awards. E na minha humilde opinião, o segundo e terceiro livros são ainda melhores do que este.

Falando de alturas menos felizes, em 2021 estávamos todos fechados em casa a dada altura. E das poucas coisas que podíamos fazer para tentar combater a insanidade, era ler livros. Como mencionei acima e como já devem ter percebido, sou um leitor que aprecia os seus livros de fantasia. Mas livros de fantasia tendem a ser enormes e durante os confinamentos tornou-se difícil concentrar-me o suficiente para ler algo dessa magnitude. E comecei activamente a ler thrillers. Foi óptimo porque, para além de serem consideravelmente mais curtos, o seu ritmo acelerado e o suspense que vão criando fazem com que queiramos continuar a ler e a ver o que vem a seguir.

E porque estou eu a falar de thrillers, perguntam vocês. Porque em 2021 a Jen Williams lançou o seu primeiro thriller, A Dark and Secret Place (ou Dog Rose Dirt, dependendo de que lado do Atlântico foi publicado). Uma daquelas coincidências que não se inventam. Não, a sério que não fazia ideia que a autora ia lançar um thriller quando comecei a explorar o género. Sobre este livro não vou dizer quase nada mesmo porque se a premissa não vos agarra, nada o fará. É um livro onde a nossa personagem principal, Heather, descobre que a sua falecida mãe passou décadas a trocar correspondência com um infame assassino em série. Curiosos?

2023 foi um ano bom para fãs de Jen Williams já que lançou não um, mas dois livros! Games for Dead Girls, um thriller onde uma mulher, Charlie, tem de lidar com as consequências de um jogo em participou na sua infância que teve consequências mortais e confrontar os horrores traumáticos do seu passado.  

E Talonsister, um novo livro de fantasia, o primeiro de uma duologia (algo que não é muito comum) passado num mundo com grifos e muitas outras criaturas inspiradas por folclore britânico e cuja maior parte da acção se passa numa ilha claramente inspirada em parte do Reino Unido chamada. Brittletain Nele seguimos Leven, essencialmente uma supersoldado, cujo processo que tornou naquilo que ela é apagou as memórias do seu passado, Cillian, membro de uma raça que vive nas florestas selvagens Kaeto, um agente do Império que domina uma grande parte deste mundo, e Ynis, uma jovem que foi criada pelos grifos. Este livro tem um passo ligeiramente mais lento do que os outros livros de fantasia da autora, mas compensa muito. Embora eu seja um boca tendencioso já que este foi o meu livro favorito do ano passado.

O que nos traz a Abril de 2024, que curiosamente é quando estou a escrever isto, quando o novo livro da autora vai sair. The Hungry Dark vai ser mais um thriler que irá incluir homicídios macabros numa vila rural e uma vidente golpista à procura de respostas. Este ainda não posso com toda a certeza recomendar porque ainda não o li, mas já está encomendado! Embora tendo em conta os livros anteriores, não tenho dúvidas de que será mais uma bela leitura.

Se chegaram aqui, bem, primeiro que nada, obrigado por acompanharem os meus devaneios até ao fim, mas mais importante que isso é que muitos de vocês devem estar a pensar “porque é que este sujeito chato disse os títulos de todos os livros em inglês?” Excelente pergunta! E em relação a parte do chato...heh, é justo. 

Agora vem a má noticia: tanto quanto eu sei nenhum dos livros da Jen Williams foram publicados em Portugal, embora o Dark and Secret Place tenha sido publicado no Brasil com o título Flores da Morte. O que já não é mau. Alguns dos outros livros estão também traduzidos em alemão e espanhol.

Dito tudo isto, deverão mesmo assim tentar ler algo da autora? A minha opinião, caso ainda não tenha sido claro, é um retumbante sim! A escrita dela é bastante acessível, mesmo nos livros de fantasia, e penso que qualquer pessoa com um razoável domínio da língua inglesa conseguirá desfrutar das suas óptimas histórias.

Pronto, já disse o que tinha a dizer, já não vos chateio mais. Mais uma vez obrigado ao dono do estaminé e a vocês que leram até ao fim.

                                                                                         

Obrigado, Fábio.

Vemo-nos por aqui.

Férias compulsivas

Tms, 01.08.24

Chegámos a Agosto e, com ele, vem um merecido descanso de todas as minhas parvoíces. O texto que se segue é da autoria de Rui Esteves, um velho amigo cujo blog no chão da sala é tão bem escrito e engraçado, que me inspirou a começar a escrever este blog.

                                                                                         

Quem trabalha tem, de vez em quando, vontade de tirar umas férias. Ou, pelo menos, eu tenho. Infelizmente, nem sempre dá para o fazer quando me apetece, o que me faz procurar alternativas. Ligar a dizer que estou doente já não pega, porque posso trabalhar de casa na mesma.

No entanto… se calhar o caminho da saúde é o mais seguro. Está aí a chegar a altura de voltar à consulta de medicina do trabalho, e talvez dê para conseguir sair de lá com a avaliação “não apto”, e ter de fazer uma pausa até voltar a estar apto. O verdadeiro problema é não saber os parâmetros para conseguir essa avaliação. Dores de cabeça regulares? Na volta, precisas de óculos – apto! Dificuldade a deslocar-se? Canadianas ou, se for mais grave, cadeira de rodas ou teletrabalho permanente – apto! Caiu-me um braço? Irreal – apto!

Acho que a única forma é fingir que tenho um amigo imaginário e levá-lo comigo à consulta. Entro no consultório e puxo duas cadeiras, “sôtôr, aqui o Vítor quis vir comigo porque diz que não pergunto tudo o que devia”, e aponto para o lado. Depois, posso reagir a qualquer recomendação do médico olhando para a cadeira vazia e dizendo, “pois, era o que tinhas dito” ou “eu não disse que não era nada?” Para ter uma base sólida, posso começar a apresentar o Vítor aleatoriamente a colegas no escritório antes da consulta, assim se o médico telefonar a perguntar alguém lhe diz que, de facto, tenho um amigo imaginário. O truque é conseguir manter num nível leve, porque gostava de continuar a trabalhar depois das fér… período de baixa médica.

O Vítor acha que vale a pena arriscar.

                                                                                         

Obrigado, Rui.

Vemo-nos por aqui.

Crónica obrigatória de verão.

Tms, 15.07.24

De todos os desportos de verão, o ténis de praia é aquele que mais me fascina.

Ao observarmos quem joga ténis de praia, podemos verificar que há dois tipos de jogadores:

  • os jogadores cooperativos: têm como objectivo manter a bola no ar o maior tempo possível e, potencialmente, ultrapassar o recorde mundial de "toques" sucessivos! Atiram bolas fáceis para o adversário, para não interromper o fluir do jogo.
  • os jogadores competitivos: têm como objectivo ganhar o jogo e, idealmente, pôr o adversário a comer areia! Atiram bolas erráticas, com força, para dificultar que o adversário consiga chegar à bola.

Ambas as formas de abordar o jogo são igualmente válidas mas, evidentemente, contraditórias. Isto não deveria ser um problema, mas frequentemente o é, uma vez que os pares de jogo normalmente são formados por um jogador de cada tipo! Não é feita uma discussão prévia sobre o objectivo do jogo e ambos presumem o papel um do outro (colega ou adversário). Os dois estão a jogar o mesmo jogo mas, ao mesmo tempo, a jogar dois jogos muito diferentes (e nem o sabem).

Ao longo da vida, vamos também presumindo os papeis que os outros assumem. Podemos estar a competir com quem nos quer ajudar ou, inversamente, ver um colega em quem nos vê como um adversário. É muito difícil saber se os objectivos dos outros estão alinhados com os nossos e uma boa comunicação nem sempre é possível. 

Com sorte, conseguimos escolher as pessoas certas com quem jogar. 

Vemo-nos por aqui.

Isto foi escrito antes de morrer.

Tms, 01.07.24

Mas, claro, tudo o que escrevi foi antes de morrer, uma vez que não é possível manter a capacidade de escrita (ou qualquer outra) depois de falecer.

Não diria que penso muito na morte, mas acho que penso demasiado. O simples saber que não é possível saber quando será o meu ultimo dia inquieta-me. Desde adolescente que tenho a ideia (espero que infundada) de que não irei chegar a velho e, por isso, qualquer tosse ou espirro são avisos de um final próximo. "Queres ver que é desta?", penso logo. Mas eu não tenho a mania das doenças, não me interpretem mal!.. Tenho só a mania da morte.

Uma coisa que não ajuda é que, tanto quanto se sabe, não era para estarmos aqui. Nenhum de nós! Foram necessárias condições tão raras para este planeta permitir vida, que não se conhece mais nenhum planeta onde tenham ocorrido. Mas nem temos de ir tão longe: se os nossos pais não se tivessem conhecido, ou os pais deles, ou os seus avós, etc... nenhum de nós estava aqui! Se tivéssemos sido concebidos noutra altura, seriam outros óvulos, fecundados por outros espermatozóides... resultando noutras pessoa que não nós. A probabilidade de tudo se ter conjugado para estarmos aqui, os dois (eu a escrever e tu a ler), é tão baixa que pode ser considerada nula! Mas cá estamos e isso é, na minha opinião, espantoso!

Cada um de nós é uma improbabilidade viva, com a rara oportunidade de, durante um curtíssimo espaço de tempo (comparado com o tempo do universo) experienciar aquilo a que chamamos de vida. E rápido, que qualquer dia acaba.

Vemo-nos por aqui.

 

Armado em Chico-expert.

Tms, 01.06.24

Não sei quem precisa de ler isto, mas: PÁRA DE ACREDITAR EM TUDO O QUE VÊS NA NET, MÃE!

Eu compreendo que, para o mundo funcionar, temos de partir do pressuposto de que as pessoas são confiáveis e, de um modo geral, decentes. Quando vamos a um centro de saúde, confiamos que o individuo de bata que nos pede para tirar a roupa é, de facto, um médico. Quando vamos a um restaurante, não nos questionamos se quem está na cozinha é mesmo cozinheiro ou, quando entramos numa loja, não duvidamos que quem usa uniforme trabalha na loja. Assumimos que as pessoas são o que dizem ser e, até prova do contrário, que sabem o que estão a fazer (até porque seria impensável mergulhar no LinkedIn à procura de referências de todas as pessoas com quem trocamos bem ou serviços).

Este raciocínio acaba por, geralmente, ser acertado. Não só os indivíduos estão no sitio certo, com o uniforme certo, como (aparentemente) é preciso passar por algumas fases até estarem naquela posição, em que nos pedem para dobrar sobre uma marquesa enquanto calçam umas luvas cirúrgicas. O problema é quando se transpõe esta forma de pensar para o mundo digital!

Não é segredo nenhum que há um problema de desinformação na internet, o que não impede muita gente (de todas as idades) de partilhar remédios milagrosos e citar factos extraordinários que descobriram no tiktok, instagram, etc. Sim, usam bata e expressam-se eloquentemente mas, se fazem conteúdo para a internet, a intenção deles poderá estar mais voltada para o engagement do que para a educação. Eu já me apanhei (algumas vezes) na armadilha de aceitar a informação que recebo como factual e, mais tarde, descobrir que havia sido ludibriado. Acho que não é de espantar, dada a quantidade de informação que nos chega todos os dias. A linha entre o real e o entretenimento vai-se esbatendo, à medida em que clicks e views se vão transformado em dinheiro e fama. 

Mas não acreditem no que escrevo só porque uso bata e me expresso, tipo, bué bem, yah!

Vemo-nos por aqui.

 

Conselho descuidado

Tms, 15.05.24

Acho que "vai com cuidado" deve ser dos conselhos mais inúteis de sempre.

É que ninguém passa a ser mais cuidadoso por ouvir esta frase. Ninguém responde (seriamente, pelo menos) "hmm.. estava a pensar ir a 140 enquanto via tiktoks e trocava mensagens com os meus amigos mas, tendo em conta o seu conselho, irei com cuidado". As pessoas ou são cuidadosas por defeito (choninhas) ou temerárias (estúpidos), não há cá trocas.

Claro que isto muda quando se adiciona algum contexto. "Vai com cuidado, que a estrada está molhada" já é um bom conselho, pois dá-nos informação sobre o porquê da necessidade de se ter cuidado. Sem contexto, chega a ser ofensivo. Então mas está a insinuar que eu, um crescido, com mais anos que todos os dedos das mãos e dos pés juntos, não sei tomar conta de mim?? 

"Vai com cuidado" parece ser um conselho inutil, mas se calhar é porque não é bem um conselho. Quando dizemos isto a alguém, estamos a dizer "espero que chegues bem". Estamos a demonstrar que nos importamos com a pessoa e desejamos o seu bem. Especialmente se o estivermos a gritar a uma criança e usarmos o primeiro e segundo nome (VAI COM CUIDADO, CARLOS ANTÓNIO).

Mas porque é que têm de bater com a cabeça até aprenderem? Enfim...

Vemo-nos por aqui.

 

A actualidade é tãããão démodé...

Tms, 01.05.24

Eu não escrevo sobre "os grandes temas da actualidade", mas se calhar até devia.

Escrever sobre a actualidade é óptimo para quem escreve com regularidade. Não há o risco de se ficar sem ideias e temos a certeza de que estamos a escrever sobre um tema relevante, sobre o qual as pessoas querem mesmo ler. Também facilita muito o engagement. Escrever sobre o conflito entre Israel e Palestina, por exemplo, deixa um rasto gigantesco de comentários de apoio e discórdia. Uns partilham porque concordam, outros porque discordam. E no post seguinte os lados podem inverter-se, ninguém se chateia!

Então, se há assim tantas vantagens, porque é que não o faço?

Bom, não direi "desta água nunca beberei", mas há alguns motivos para não o fazer. A mais óbvia é que há muita gente, muito mais qualificada do que eu, que já comenta esses assuntos. Acho que mais uma voz desinformada só iria acrescentar mais ruído à discussão. Comentar a actualidade também requer alguma urgência. Vivemos na era do (i)mediatismo. Parece necessário que se tenha uma opinião completamente formada sobre qualquer assunto que apareça, e eu prefiro demorar o meu tempo a pensar, a escrever, a reescrever... Quando tivesse o texto pronto, já saía desactualizado.

A verdade é que os temas que abordo já são bastante grandes para mim. São as minhas dúvidas e inseguranças mascaradas de pequenos textos tolos...

Ó senhora, eu sei lá como resolver os problemas do mundo! Mal sei resolver os meus!

Vemo-nos por aí.