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Impaciência Crónica

Crónicas quinzenais sobre temas diversos e profundos, mas mais pró leve.

Impaciência Crónica

Crónicas quinzenais sobre temas diversos e profundos, mas mais pró leve.

Férias compulsivas

Tms, 01.08.24

Chegámos a Agosto e, com ele, vem um merecido descanso de todas as minhas parvoíces. O texto que se segue é da autoria de Rui Esteves, um velho amigo cujo blog no chão da sala é tão bem escrito e engraçado, que me inspirou a começar a escrever este blog.

                                                                                         

Quem trabalha tem, de vez em quando, vontade de tirar umas férias. Ou, pelo menos, eu tenho. Infelizmente, nem sempre dá para o fazer quando me apetece, o que me faz procurar alternativas. Ligar a dizer que estou doente já não pega, porque posso trabalhar de casa na mesma.

No entanto… se calhar o caminho da saúde é o mais seguro. Está aí a chegar a altura de voltar à consulta de medicina do trabalho, e talvez dê para conseguir sair de lá com a avaliação “não apto”, e ter de fazer uma pausa até voltar a estar apto. O verdadeiro problema é não saber os parâmetros para conseguir essa avaliação. Dores de cabeça regulares? Na volta, precisas de óculos – apto! Dificuldade a deslocar-se? Canadianas ou, se for mais grave, cadeira de rodas ou teletrabalho permanente – apto! Caiu-me um braço? Irreal – apto!

Acho que a única forma é fingir que tenho um amigo imaginário e levá-lo comigo à consulta. Entro no consultório e puxo duas cadeiras, “sôtôr, aqui o Vítor quis vir comigo porque diz que não pergunto tudo o que devia”, e aponto para o lado. Depois, posso reagir a qualquer recomendação do médico olhando para a cadeira vazia e dizendo, “pois, era o que tinhas dito” ou “eu não disse que não era nada?” Para ter uma base sólida, posso começar a apresentar o Vítor aleatoriamente a colegas no escritório antes da consulta, assim se o médico telefonar a perguntar alguém lhe diz que, de facto, tenho um amigo imaginário. O truque é conseguir manter num nível leve, porque gostava de continuar a trabalhar depois das fér… período de baixa médica.

O Vítor acha que vale a pena arriscar.

                                                                                         

Obrigado, Rui.

Vemo-nos por aqui.

Fé à força.

Tms, 15.06.24

Nunca fui um individuo de fé.

Nem me refiro apenas a "fé religiosa", mas "fé" no sentido de acreditar cegamente, ignorando propositadamente os factos... Isso vale? Sempre me pareceu algo sem sentido. Reconfortante, sim, mas sem sentido. Acreditar que as coisas vão correr bem, não resulta em que as coisas corram bem! A lógica dita que precisamos de reconhecer os problemas para, subsequentemente, resolvê-los. Se não tiverem solução, é aceitar e arcar com as consequências!

Foi assim que vivi a maior parte da minha vida... e depois decidi ser pai.

Com a minha companheira grávida, a ver noticias de maternidades fechadas e debates sobre violência obstetrícia, rapidamente dei por mim a fazer ouvidos moucos e a acreditar que ia correr tudo bem. Não foi uma gravidez isenta de sustos e tivemos um acompanhamento longe do ideal (tanto pela parte de privados como do SNS), mas acreditava profundamente que, apesar de tudo, ia correr tudo bem. Tinha de correr tudo bem, porque a alternativa era demasiado dolorosa para sequer equacionar. Felizmente correu bem e nasceu uma menina saudável e muito traquinas. 

Ok, tive um momento irracional de fé passageira, e então? 

Então que não foi passageira! Ver a minha pirata a crescer só me faz pensar no mundo em que ela está a crescer (e, acreditando nas más línguas, isto não anda lá muito famoso). Andam a convencer-nos que o mundo está à beira da perdição desde "Uma Verdade Inconveniente" e acho que me fui habituando à ideia. Como qualquer pai, não é isso que desejo para a minha filha, mas há um limite para o que conseguimos fazer, enquanto indivíduos. Agora, por ela, vejo-me forçado a ter fé no mundo e nas pessoas... e sei que vai correr tudo bem.

Vemo-nos por aqui. 

Armado em Chico-expert.

Tms, 01.06.24

Não sei quem precisa de ler isto, mas: PÁRA DE ACREDITAR EM TUDO O QUE VÊS NA NET, MÃE!

Eu compreendo que, para o mundo funcionar, temos de partir do pressuposto de que as pessoas são confiáveis e, de um modo geral, decentes. Quando vamos a um centro de saúde, confiamos que o individuo de bata que nos pede para tirar a roupa é, de facto, um médico. Quando vamos a um restaurante, não nos questionamos se quem está na cozinha é mesmo cozinheiro ou, quando entramos numa loja, não duvidamos que quem usa uniforme trabalha na loja. Assumimos que as pessoas são o que dizem ser e, até prova do contrário, que sabem o que estão a fazer (até porque seria impensável mergulhar no LinkedIn à procura de referências de todas as pessoas com quem trocamos bem ou serviços).

Este raciocínio acaba por, geralmente, ser acertado. Não só os indivíduos estão no sitio certo, com o uniforme certo, como (aparentemente) é preciso passar por algumas fases até estarem naquela posição, em que nos pedem para dobrar sobre uma marquesa enquanto calçam umas luvas cirúrgicas. O problema é quando se transpõe esta forma de pensar para o mundo digital!

Não é segredo nenhum que há um problema de desinformação na internet, o que não impede muita gente (de todas as idades) de partilhar remédios milagrosos e citar factos extraordinários que descobriram no tiktok, instagram, etc. Sim, usam bata e expressam-se eloquentemente mas, se fazem conteúdo para a internet, a intenção deles poderá estar mais voltada para o engagement do que para a educação. Eu já me apanhei (algumas vezes) na armadilha de aceitar a informação que recebo como factual e, mais tarde, descobrir que havia sido ludibriado. Acho que não é de espantar, dada a quantidade de informação que nos chega todos os dias. A linha entre o real e o entretenimento vai-se esbatendo, à medida em que clicks e views se vão transformado em dinheiro e fama. 

Mas não acreditem no que escrevo só porque uso bata e me expresso, tipo, bué bem, yah!

Vemo-nos por aqui.

 

Conselho descuidado

Tms, 15.05.24

Acho que "vai com cuidado" deve ser dos conselhos mais inúteis de sempre.

É que ninguém passa a ser mais cuidadoso por ouvir esta frase. Ninguém responde (seriamente, pelo menos) "hmm.. estava a pensar ir a 140 enquanto via tiktoks e trocava mensagens com os meus amigos mas, tendo em conta o seu conselho, irei com cuidado". As pessoas ou são cuidadosas por defeito (choninhas) ou temerárias (estúpidos), não há cá trocas.

Claro que isto muda quando se adiciona algum contexto. "Vai com cuidado, que a estrada está molhada" já é um bom conselho, pois dá-nos informação sobre o porquê da necessidade de se ter cuidado. Sem contexto, chega a ser ofensivo. Então mas está a insinuar que eu, um crescido, com mais anos que todos os dedos das mãos e dos pés juntos, não sei tomar conta de mim?? 

"Vai com cuidado" parece ser um conselho inutil, mas se calhar é porque não é bem um conselho. Quando dizemos isto a alguém, estamos a dizer "espero que chegues bem". Estamos a demonstrar que nos importamos com a pessoa e desejamos o seu bem. Especialmente se o estivermos a gritar a uma criança e usarmos o primeiro e segundo nome (VAI COM CUIDADO, CARLOS ANTÓNIO).

Mas porque é que têm de bater com a cabeça até aprenderem? Enfim...

Vemo-nos por aqui.

 

A actualidade é tãããão démodé...

Tms, 01.05.24

Eu não escrevo sobre "os grandes temas da actualidade", mas se calhar até devia.

Escrever sobre a actualidade é óptimo para quem escreve com regularidade. Não há o risco de se ficar sem ideias e temos a certeza de que estamos a escrever sobre um tema relevante, sobre o qual as pessoas querem mesmo ler. Também facilita muito o engagement. Escrever sobre o conflito entre Israel e Palestina, por exemplo, deixa um rasto gigantesco de comentários de apoio e discórdia. Uns partilham porque concordam, outros porque discordam. E no post seguinte os lados podem inverter-se, ninguém se chateia!

Então, se há assim tantas vantagens, porque é que não o faço?

Bom, não direi "desta água nunca beberei", mas há alguns motivos para não o fazer. A mais óbvia é que há muita gente, muito mais qualificada do que eu, que já comenta esses assuntos. Acho que mais uma voz desinformada só iria acrescentar mais ruído à discussão. Comentar a actualidade também requer alguma urgência. Vivemos na era do (i)mediatismo. Parece necessário que se tenha uma opinião completamente formada sobre qualquer assunto que apareça, e eu prefiro demorar o meu tempo a pensar, a escrever, a reescrever... Quando tivesse o texto pronto, já saía desactualizado.

A verdade é que os temas que abordo já são bastante grandes para mim. São as minhas dúvidas e inseguranças mascaradas de pequenos textos tolos...

Ó senhora, eu sei lá como resolver os problemas do mundo! Mal sei resolver os meus!

Vemo-nos por aí.

 

O defeito "que nem é bem defeito".

Tms, 15.04.24

Um defeito? Sou perfeccionista.

Acho que deve ser o defeito mais mencionado quando falamos de nós próprios, especialmente se for numa entrevista de emprego. É um defeito que fica sempre bem, porque é associado a brio, atenção ao pormenor ou, no pior dos casos, só a ser-se "picuinhas".

Percebo que, quando digo que sou perfeccionista, as pessoas ouvem "gosto de fazer um bom trabalho", quando na realidade quero dizer "considero-me um bocado de excremento mole, a menos que cumpra estes objectivos (que, segundo me dizem, são) demasiado altos, aos quais chamo de 'mínimo'". Quero dizer que me esqueço de comer ou dormir até limar todas as arestas, corrigir todos os erros e colmatar todas as falhas que conseguir encontrar no meu trabalho. Quero dizer que, quando não encontro mais falhas, não acho que fiz um bom trabalho, mas fico apenas com receio de me ter escapado qualquer coisa. Quero dizer que sou incapaz de aceitar qualquer elogio ao meu trabalho, porque fico sempre a pensar que podia ter feito melhor, mesmo não sabendo como. 

E sim, sei que o perfeito não existe e por isso estou numa busca vã. Saber isso não ajuda, uma vez que não estou a falar de um comportamento racional, mas sim de um defeito. É um comportamento que, apesar de tentar gerir, tenho dificuldade em evitar. 

Ou se calhar sou só "picuinhas", sei lá.

Vemo-nos por aqui.

Engana-me, que eu gosto.

Tms, 01.04.24

Eu não sou grande fã da mentira corriqueira, nem como produtor, nem como consumidor.

Claro que não sou nenhum santo e já menti, mas não me lembro de extrair grande prazer, nem do processo, nem do resultado. Para ser honesto, sempre me pareceu bastante triste e trabalhoso enaltecer-me a mim ou à minha vida através do engodo. Para quê ter a fama se não posso ter o proveito?

Também penso que não haja muita gente que goste de saber que foi ludibriado, ou pelo menos não se gabam muito disso. Mesmo as chamadas "mentiras boas", serão assim tão boas, ou estarão apenas a perpetuar personalidades tóxicas ou, talvez ainda pior, capachinhos?

Eu até gosto muito de ser enganado, mas apenas quando já sei à partida que me querem enganar. Avisem-me primeiro que, na maioria dos casos, até me esforço para me deixar enganar. Estou a falar de filmes, séries, livros, peças de teatro e, até, espectáculos de magia. Há um acordo tácito de que eles fazem aquilo para me enganar, eu sou enganado, e ninguém se chateia. Bom, quase ninguém. Já todos tivemos um momento de "epá, era impossível o gajo sobreviver a isto" num filme em que aceitamos dragões com cara de unicórnio e patas de framboesa. A suspensão da descrença não cobre tudo, vá-se lá saber porquê.

Vemo-nos por aqui.

Ligações anónimas

Tms, 15.03.24

Eu não atendo números desconhecidos. 

Nem é só quando aparece "número desconhecido" no ecrã, eu simplesmente não atendo qualquer número que não conheça. Causa-me desconforto quando o telemóvel toca e vejo uma sequência de dígitos que não reconheço, como se estivesse numa casa de banho pública e começassem a bater à porta. Sei que não sou o único nesta situação (quiçá por ser bué jovem), mas acho que A CULPA É DESTAS MALDITAS NOVAS TECNOLOGIAS (ok, talvez "jovem" seja algo exagerado).

Na minha juventude cheguei a experienciar algumas barbaridades, como o uso do telefone fixo, em casa, para realizar e receber chamadas. O nosso primeiro telefone nem ecrã tinha, por isso não havia qualquer maneira de saber quem nos estava a ligar até, de facto, atendermos. E atendíamos, sempre na esperança de ser algum familiar ou amigo, esquecendo todas as (não muitas) outras vezes em que ficámos demasiado tempo presos na conversa de um telemarketer. Era uma roleta russa, no sentido em que gostariamos de dar um tiro na cabeça quando ouvíamos um "era possível falar com o responsável pela **** aí de casa?".

Mas a tecnologia evoluiu e mimou-nos com informação. Agora é possível ver se quem nos liga é realmente um familiar ou amigo, sem ter de atender. Isto aliado ao facto dos scams e spam telefónico serem cada vez mais, não dá vontade nenhuma de atender alguém que não seja uma das 5 pessoas com quem quero falar. Tornou-se mais conveniente não atender, até porque depois até posso ver no google que informação há sobre o número. É importante? Envie um e-mail. É urgente? Envie uma sms. 

Eu não me estou a queixar. Só estou a dizer que, se me ligarem e não vos atender... culpem a tecnologia.

Vemo-nos por aqui.

Com um grande poder, vem grande ociosidade.

Tms, 01.03.24

Sejam sinceros: se ganhassem um super-poder, tornar-se-iam super-heróis?

Quantas vezes não gostaríamos de ter o poder de tele-transporte, não para salvar o mundo, mas apenas para não ter de apanhar chuva quando é preciso ir a algum lado? Quantos fãs de Harry Potter não desejaram poder exclamar Accio, apenas para apanhar o comando que ficou na mesa, quando se sentaram no sofá? Todos sabemos a primeira coisa que fariamos, se nos tornassemos invisiveis...

Eu diria que a maior parte das pessoas, onde também me incluo, iria usar o seu novo super-poder para facilitar a sua vida, e não para a complicar mais. É como o pessoal que ganha o euro-milhões e nem à família quer contar, porque se dão a uns, têm de dar a outros, e já agora ao melhor amigo e ao que tem "uma boa ideia para um negócio" e NUNCA MAIS ACABA! Começamos por voar a tia ao centro de saúde e acabamos a levar a familia toda à Disneyland Paris, só para não dar dinheiro à TAP.

Um super-poder não nos torna super-heróis nem super-vilões, e está tudo bem. A maior parte dessas personagens vive numa realidade à parte dos comuns mortais, onde não tem de se preocupar com o mundano. São milionários, ou ligados a milionários, ou são seres interdimensionais invulneráveis, que nem precisam de comer! 

Qual era o super-poder que facilitaria mais a vossa vida? Eu gostaria de provocar diarreia explosiva instantânea em quem quisesse. Está estacionado em segunda fila, a impedir o transito? Toma lá diarreia explosiva! Está a usar o telemóvel no cinema? Toma lá diarreia explosiva! Tem prisão de ventre? Toma lá diarreia explosiva! MUAHAHAHAHAH!

Vemo-nos por aqui.

 

É da idade...

Tms, 15.02.24

Está próximo o dia em que completarei 35 anos de vida e acho que surge a questão: estarei velho?

Os mais velhos dirão que não, mas os mais novos dirão que sim. Ambos podem concordar que poderei estar demasiado velho para algumas coisas, mas também ainda não tenho idade para outras. Isto aplica-se a qualquer idade, por isso fico na mesma.

Sozinho também não consigo perceber. Visto-me como quando era jovem, tenho os mesmos interesses de quando era jovem, mas não me comporto como quando era jovem, maioritariamente derivado de "isto vai dar merda" ou "não tenho energia para esta merda".

As revistas de lifestyle dizem que os 30 são os novos 20, mas com 20 anos não acordava com dores nos ossos e tenho a certeza que tinha mais cabelo no cocuruto. Eu também achava que "a idade é só um número" até fazer 30 anos e começar a grunhir de esforço cada vez que me levanto do sofá. 

A verdade é que nunca fui tão velho, mas gosto de me lembrar que nunca mais voltarei a ser tão jovem como hoje. Tenho de admitir que é de aproveitar.

Vemo-nos por aqui.