O Calendário dos bons momentos
Há uns anos atrás, depois de um problema de saúde, tive uma depressão.
Afastei-me dos amigos, saí do emprego onde estava e tinha muitos dias em que nem conseguia arranjar coragem para sair de casa. Sentia-me completamente perdido, impotente e (claro, o clássico) sentia-me mal por me sentir tão mal, como se não tivesse direito a tal.
Foram tempos difíceis e confusos, não só para mim mas também, reconheço, para todos próximos de mim. Andava com os nervos à flor da pele, com o coração na boca, e a minha família não sabia, muitas vezes, como iria reagir quando me abordava. Sinceramente, nem eu.
Felizmente isso não os demovia nas suas tentativas de me alegrarem. A minha namorada, com quem já vivia na altura, tinha sempre planos para me tirar de casa. Eram passeios, comer fora, cinema, etc... E resultava! Até ao dia seguinte, pelo menos... A depressão era rápida a apagar não só a pouca alegria até aí obtida, como também a memória desses eventos, deixando-me a olhar para trás e ver apenas uma névoa de desânimo.
Foi então que decidi criar aquilo a que chamei "O Calendário dos Bons Momentos"!
Arranjei um calendário, daqueles com "casinhas", e comecei a pintar de cor viva o quadrado correspondente a cada dia em que houvesse algo que me animasse: um lanche fora, encontrar um amigo, o que fosse. Se sentisse que algo, naquele dia, me tinha trazido um pouco de alegria, pintava o quadrado (e escrevia uma ou duas palavras para ajudar a lembrar o momento).
Semana após semana, o calendário começou a ficar cada vez mais colorido, relembrando-me diariamente dos bons momentos passados e dando-me esperança de que haveriam muitos mais no meu futuro.
Anos depois, e depois de muita psicoterapia, posso dizer que tenho mais dias bons do que maus. A quem se rever neste texto: não hesitem em pedir ajuda profisional, é um processo difícil e moroso, mas as coisas melhoram.
Vemo-nos por aqui.