Isto foi escrito antes de morrer.
Mas, claro, tudo o que escrevi foi antes de morrer, uma vez que não é possível manter a capacidade de escrita (ou qualquer outra) depois de falecer.
Não diria que penso muito na morte, mas acho que penso demasiado. O simples saber que não é possível saber quando será o meu ultimo dia inquieta-me. Desde adolescente que tenho a ideia (espero que infundada) de que não irei chegar a velho e, por isso, qualquer tosse ou espirro são avisos de um final próximo. "Queres ver que é desta?", penso logo. Mas eu não tenho a mania das doenças, não me interpretem mal!.. Tenho só a mania da morte.
Uma coisa que não ajuda é que, tanto quanto se sabe, não era para estarmos aqui. Nenhum de nós! Foram necessárias condições tão raras para este planeta permitir vida, que não se conhece mais nenhum planeta onde tenham ocorrido. Mas nem temos de ir tão longe: se os nossos pais não se tivessem conhecido, ou os pais deles, ou os seus avós, etc... nenhum de nós estava aqui! Se tivéssemos sido concebidos noutra altura, seriam outros óvulos, fecundados por outros espermatozóides... resultando noutras pessoa que não nós. A probabilidade de tudo se ter conjugado para estarmos aqui, os dois (eu a escrever e tu a ler), é tão baixa que pode ser considerada nula! Mas cá estamos e isso é, na minha opinião, espantoso!
Cada um de nós é uma improbabilidade viva, com a rara oportunidade de, durante um curtíssimo espaço de tempo (comparado com o tempo do universo) experienciar aquilo a que chamamos de vida. E rápido, que qualquer dia acaba.
Vemo-nos por aqui.