Engana-me, que eu gosto.
Eu não sou grande fã da mentira corriqueira, nem como produtor, nem como consumidor.
Claro que não sou nenhum santo e já menti, mas não me lembro de extrair grande prazer, nem do processo, nem do resultado. Para ser honesto, sempre me pareceu bastante triste e trabalhoso enaltecer-me a mim ou à minha vida através do engodo. Para quê ter a fama se não posso ter o proveito?
Também penso que não haja muita gente que goste de saber que foi ludibriado, ou pelo menos não se gabam muito disso. Mesmo as chamadas "mentiras boas", serão assim tão boas, ou estarão apenas a perpetuar personalidades tóxicas ou, talvez ainda pior, capachinhos?
Eu até gosto muito de ser enganado, mas apenas quando já sei à partida que me querem enganar. Avisem-me primeiro que, na maioria dos casos, até me esforço para me deixar enganar. Estou a falar de filmes, séries, livros, peças de teatro e, até, espectáculos de magia. Há um acordo tácito de que eles fazem aquilo para me enganar, eu sou enganado, e ninguém se chateia. Bom, quase ninguém. Já todos tivemos um momento de "epá, era impossível o gajo sobreviver a isto" num filme em que aceitamos dragões com cara de unicórnio e patas de framboesa. A suspensão da descrença não cobre tudo, vá-se lá saber porquê.
Vemo-nos por aqui.