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Impaciência Crónica

Crónicas quinzenais sobre temas diversos e profundos, mas mais pró leve.

Impaciência Crónica

Crónicas quinzenais sobre temas diversos e profundos, mas mais pró leve.

Carta aberta aos meus heróis

Tms, 01.02.24

Caros heróis (não vos irei mencionar pelo nome, para os outros não ficarem tristes),

Gostaria de começar por vos agradecer por todo o vosso trabalho até hoje, que tanta alegria e inspiração me tem trazido ao longo dos anos. Espero genuinamente que continuem por muitos mais!

Ouço atentamente cada palavra que proferem e ambiciono ser como vocês, mas só as partes que eu gosto, que as outras maçam-me um bocadinho. Isto de serem humanos, com defeitos, é meio "meh" para mim. Seria possível não serem assim (pergunta sincera)?

Eu compreendo que, hoje em dia, haja uma pressão social e, principalmente no vosso caso, profissional de criar muito conteúdo para a internet (conteúdo esse que aprecio bastante, na sua maioria) mas isso abre portas a algumas (pequenas) incongruências.

Um exemplo *coff--Ricardo Araújo Pereira--coff* é negar que as palavras possam causar dor. Podem não causar dor física, mas podem causar dor emocional. Parece-me apenas lógico concluir que: se as palavras, numa determinada ordem, podem provocar uma reacção involuntária chamada riso, também podem provocar outras reacções involuntárias mais desagradáveis. Aceitar essa lógica simples não significa que se esteja a assumir a intenção de magoar as pessoas, é só uma consequência possível.

Outro exemplo é de quem diz dizer aquilo que não se diz *coff--Bruno Nogueira--coff*, mas parece que ocupa parte desse espaço com parêntesis. Muito "Claro que com isto não quero dizer..." ou "Com isto não me estou a referir a...". O cumulo, para mim, é a edição (rara, felizmente) após a publicação. Uma story, que passado uma hora tem um texto ligeiramente diferente, ou até mesmo um episódio com uma secção removida, com uma desculpa de "O outro link deu merda". Um verdadeiro stalk--FÃ! eu queria escrever fã-- repara nessas coisas.

Percebo que isto sejam respostas ao público de hoje em dia, mais vocal e (penso ser o termo técnico) choninhas. A solução é simples: não se pode agradar a todos, por isso peço que se foquem apenas em agradar-me a mim.

Obrigado e

Vemo-nos por aqui.

O Calendário dos bons momentos

Tms, 15.01.24

Há uns anos atrás, depois de um problema de saúde, tive uma depressão. 

Afastei-me dos amigos, saí do emprego onde estava e tinha muitos dias em que nem conseguia arranjar coragem para sair de casa. Sentia-me completamente perdido, impotente e (claro, o clássico) sentia-me mal por me sentir tão mal, como se não tivesse direito a tal.

Foram tempos difíceis e confusos, não só para mim mas também, reconheço, para todos próximos de mim. Andava com os nervos à flor da pele, com o coração na boca, e a minha família não sabia, muitas vezes, como iria reagir quando me abordava. Sinceramente, nem eu.

Felizmente isso não os demovia nas suas tentativas de me alegrarem. A minha namorada, com quem já vivia na altura, tinha sempre planos para me tirar de casa. Eram passeios, comer fora, cinema, etc... E resultava! Até ao dia seguinte, pelo menos... A depressão era rápida a apagar não só a pouca alegria até aí obtida, como também a memória desses eventos, deixando-me a olhar para trás e ver apenas uma névoa de desânimo. 

Foi então que decidi criar aquilo a que chamei "O Calendário dos Bons Momentos"!

Arranjei um calendário, daqueles com "casinhas", e comecei a pintar de cor viva  o quadrado correspondente a cada dia em que houvesse algo que me animasse: um lanche fora, encontrar um amigo, o que fosse. Se sentisse que algo, naquele dia, me tinha trazido um pouco de alegria, pintava o quadrado (e escrevia uma ou duas palavras para ajudar a lembrar o momento).

Semana após semana, o calendário começou a ficar cada vez mais colorido, relembrando-me diariamente dos bons momentos passados e dando-me esperança de que haveriam muitos mais no meu futuro.

Anos depois, e depois de muita psicoterapia, posso dizer que tenho mais dias bons do que maus. A quem se rever neste texto: não hesitem em pedir ajuda profisional, é um processo difícil e moroso, mas as coisas melhoram.

Vemo-nos por aqui.

 

Esta será, provavelmente, a minha última crónica.

Tms, 01.01.24

E é uma pena, porque também é a minha primeira crónica e até acho que isto, com alguma prática, tinha potencial para ser giro. Este não é um caso de "os últimos são os primeiros" ou vice-versa, mas um reflexo da minha falta de auto-confiança.

Há uns anos surgiu-me a ideia (extremamente original) de escrever sobre temas diversos e profundos, tais como - inserir lista de temas diversos e profundos, mas mais pró leve - e comecei a apontar notas no meu caderno, decidi-me por um nome... mas também rapidamente começaram a surgir dúvidas e receios.

Conseguiria eu escrever algo de interesse ou, no mínimo, que entretivesse? Se sim, conseguiria fazê-lo regularmente, com ideias frescas ou, há falta de melhor, à temperatura ambiente? Mas quem é que ainda lê blogs?.. Estas dúvidas que, durante tanto tempo, me impediram de começar este blog, persistem ainda hoje.

Acredito que sejam pensamentos comuns e transversais a várias áreas da vida. Quantas vezes não desistimos antes de começar, demovidos pelas dúvidas e receios que insistem e persistem. Medo de falhar, medo de nos expormos ao ridiculo... No fundo, medo de demonstrar vulnerabilidade e sairmos magoados. 

Neste caso, e apesar de tudo, persiste também a vontade de escrever, por isso... aqui estou eu! (gritou ele ao mundo, que respondeu com uma indiferença ensurdecedora.)

Que esta seja a minha última crónica no sentido de que é a mais recente.

Vemos-nos por aqui.