Fé à força.
Nunca fui um individuo de fé.
Nem me refiro apenas a "fé religiosa", mas "fé" no sentido de acreditar cegamente, ignorando propositadamente os factos... Isso vale? Sempre me pareceu algo sem sentido. Reconfortante, sim, mas sem sentido. Acreditar que as coisas vão correr bem, não resulta em que as coisas corram bem! A lógica dita que precisamos de reconhecer os problemas para, subsequentemente, resolvê-los. Se não tiverem solução, é aceitar e arcar com as consequências!
Foi assim que vivi a maior parte da minha vida... e depois decidi ser pai.
Com a minha companheira grávida, a ver noticias de maternidades fechadas e debates sobre violência obstetrícia, rapidamente dei por mim a fazer ouvidos moucos e a acreditar que ia correr tudo bem. Não foi uma gravidez isenta de sustos e tivemos um acompanhamento longe do ideal (tanto pela parte de privados como do SNS), mas acreditava profundamente que, apesar de tudo, ia correr tudo bem. Tinha de correr tudo bem, porque a alternativa era demasiado dolorosa para sequer equacionar. Felizmente correu bem e nasceu uma menina saudável e muito traquinas.
Ok, tive um momento irracional de fé passageira, e então?
Então que não foi passageira! Ver a minha pirata a crescer só me faz pensar no mundo em que ela está a crescer (e, acreditando nas más línguas, isto não anda lá muito famoso). Andam a convencer-nos que o mundo está à beira da perdição desde "Uma Verdade Inconveniente" e acho que me fui habituando à ideia. Como qualquer pai, não é isso que desejo para a minha filha, mas há um limite para o que conseguimos fazer, enquanto indivíduos. Agora, por ela, vejo-me forçado a ter fé no mundo e nas pessoas... e sei que vai correr tudo bem.
Vemo-nos por aqui.