Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Impaciência Crónica

Crónicas quinzenais sobre temas diversos e profundos, mas mais pró leve.

Impaciência Crónica

Crónicas quinzenais sobre temas diversos e profundos, mas mais pró leve.

Fé à força.

Tms, 15.06.24

Nunca fui um individuo de fé.

Nem me refiro apenas a "fé religiosa", mas "fé" no sentido de acreditar cegamente, ignorando propositadamente os factos... Isso vale? Sempre me pareceu algo sem sentido. Reconfortante, sim, mas sem sentido. Acreditar que as coisas vão correr bem, não resulta em que as coisas corram bem! A lógica dita que precisamos de reconhecer os problemas para, subsequentemente, resolvê-los. Se não tiverem solução, é aceitar e arcar com as consequências!

Foi assim que vivi a maior parte da minha vida... e depois decidi ser pai.

Com a minha companheira grávida, a ver noticias de maternidades fechadas e debates sobre violência obstetrícia, rapidamente dei por mim a fazer ouvidos moucos e a acreditar que ia correr tudo bem. Não foi uma gravidez isenta de sustos e tivemos um acompanhamento longe do ideal (tanto pela parte de privados como do SNS), mas acreditava profundamente que, apesar de tudo, ia correr tudo bem. Tinha de correr tudo bem, porque a alternativa era demasiado dolorosa para sequer equacionar. Felizmente correu bem e nasceu uma menina saudável e muito traquinas. 

Ok, tive um momento irracional de fé passageira, e então? 

Então que não foi passageira! Ver a minha pirata a crescer só me faz pensar no mundo em que ela está a crescer (e, acreditando nas más línguas, isto não anda lá muito famoso). Andam a convencer-nos que o mundo está à beira da perdição desde "Uma Verdade Inconveniente" e acho que me fui habituando à ideia. Como qualquer pai, não é isso que desejo para a minha filha, mas há um limite para o que conseguimos fazer, enquanto indivíduos. Agora, por ela, vejo-me forçado a ter fé no mundo e nas pessoas... e sei que vai correr tudo bem.

Vemo-nos por aqui. 

Armado em Chico-expert.

Tms, 01.06.24

Não sei quem precisa de ler isto, mas: PÁRA DE ACREDITAR EM TUDO O QUE VÊS NA NET, MÃE!

Eu compreendo que, para o mundo funcionar, temos de partir do pressuposto de que as pessoas são confiáveis e, de um modo geral, decentes. Quando vamos a um centro de saúde, confiamos que o individuo de bata que nos pede para tirar a roupa é, de facto, um médico. Quando vamos a um restaurante, não nos questionamos se quem está na cozinha é mesmo cozinheiro ou, quando entramos numa loja, não duvidamos que quem usa uniforme trabalha na loja. Assumimos que as pessoas são o que dizem ser e, até prova do contrário, que sabem o que estão a fazer (até porque seria impensável mergulhar no LinkedIn à procura de referências de todas as pessoas com quem trocamos bem ou serviços).

Este raciocínio acaba por, geralmente, ser acertado. Não só os indivíduos estão no sitio certo, com o uniforme certo, como (aparentemente) é preciso passar por algumas fases até estarem naquela posição, em que nos pedem para dobrar sobre uma marquesa enquanto calçam umas luvas cirúrgicas. O problema é quando se transpõe esta forma de pensar para o mundo digital!

Não é segredo nenhum que há um problema de desinformação na internet, o que não impede muita gente (de todas as idades) de partilhar remédios milagrosos e citar factos extraordinários que descobriram no tiktok, instagram, etc. Sim, usam bata e expressam-se eloquentemente mas, se fazem conteúdo para a internet, a intenção deles poderá estar mais voltada para o engagement do que para a educação. Eu já me apanhei (algumas vezes) na armadilha de aceitar a informação que recebo como factual e, mais tarde, descobrir que havia sido ludibriado. Acho que não é de espantar, dada a quantidade de informação que nos chega todos os dias. A linha entre o real e o entretenimento vai-se esbatendo, à medida em que clicks e views se vão transformado em dinheiro e fama. 

Mas não acreditem no que escrevo só porque uso bata e me expresso, tipo, bué bem, yah!

Vemo-nos por aqui.